Revista Letras et Cetera

 

 

 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Outra resposta à Luiz de Aquino, publicada no Dia rio da Manhã

Homem de Deus, com esta sua cronica retornei lá para a época das obras do Parque Ateneu onde um amigo, também Santista,(o Engenheiro José Antonio Cid Peres) havia comprado uma casa.Ficamos alguns dias naquela região, onze km distante do centro, bem me lembro, eu me encantava com as corujas e mais, tinha um enxame de abelhas que passava pontualmente ao entardecer e aquelas imagens me deixavam atonitos já que eu estava é mais acostumado com a beira-mar. Quando se mexe com as coisas que beiram muito o mar não tem jeito não; se ele cobrar um dia, ele engole tudo, depois, só resta mesmo a linha d'água para ser apreciada ou os corais abaixo para serem fotografados pelos mergulhadores. Diferente de sua poesia, onde em cada passo dado pode-se sentir a energia vibrante a germinar. A natureza, melhor que todos os engenheiros reunidos, faz seus cálculos precisos para que tudo seja redesenhado, cada bactéria, cada semente, cada organismo, nitrogenado ou não, trabalham de sol a sol, para depois, - anos depois - quem sabe este santista aqui no Sul, que morre de saudade desta Goiania, de Pedro Ludovico, voltar e apreciar tudo novamente.

Abraços poeta

Luiz Delfino

Fevereiro 08, 2009 11:03 PM
Diário da Manhã - Goiânia - 08-02-09 pg06

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Um Comentário à Luiz de Aquino

Meu amigo poeta, seu brilhantismo impera na sagacidade de envolver e revolver a mente do leitor.
Não faz muito tempo uma prima que eu não via desde meados dos anos oitenta, pediu-me especial atenção, em meio a uma saudosa prosa familiar, para dizer que quando muito menina - devia ter seus seis ou sete anos, e eu meus doze ou treze -, ao chegar em minha casa, apoderou-se de uma pequena coleção de gibis que eu sempre guardei com muito carinho na mesma estante de livros de meu pai. Ao vê-la perscrutar as obras em quadrinhos, que entre os amiguinhos em comum serviam até como moeda de troca por material de igual serventia, chamei-a num canto - segundo seu recente relato - e disse-lhe que teria sempre por presente uma nova edição daquelas histórias em quadrinhos desde que a mesma se comprometesse a aprender a ler. Vale lembrar poeta Aquino, que meu pai era garção e morávamos em uma cidade muito humilde, que leva o nome do poeta Vicente de Carvalho, subdistrito de Guarujá, Baixada Santista. Muito humilde também era minha família; mais humilde ainda, para que você possa ter uma idéia, era esta minha prima cujo pai trabalhava como pintor civil, e nas horas vagas servia-se da ebriedade inspirado em Nelson Gonçalves, e a mãe, do lar e analfabeta - minha tia, irmã de minha mãe - formavam uma família de treze pessoas ou seja, esta minha prima chegou a ter mais dez irmãos.
Bem, voltemos às obras de Walt Disney. Ao ouvir que seria presenteada com um gibi a cada “pequena obra” que tivesse me decifrado alguma coisa, a mesma contou-me emocionada - e eu também já vertendo algumas lágrimas - que no mesmo dia lia com perfeição o que na capa estava escrito: " T I O P A T I N H A S " e outras coisas mais. E assim foi que a partir daquela data ela nunca mais deixou de ler e enriqueceu sua coleção de gibis e seu vocabulário. Assim alfabetizou-se, para bem mais tarde entrar na escola pois lá, na pequena Ilha de Santo Amaro, era grande a dificuldade de ir ao Grupo Escolar com a idade certa. Eu por exemplo, entrei aos nove anos.
Sabedor de sua sensibilidade, nobre conterrâneo de Cora Coralina, sei que comungará comigo a felicidade de conhecer este fato e aqui, após ler sua crônica, faço questão de registrar o apelo para todos nós que muito pode ser feito seguindo-se, sem muito compromisso, o exemplo do menino que sonhava em ser um cientista igual a Vital Brazil e ser um escritor como Martins Fontes

Luiz Delfino

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

CRIMINALIDADE, por Cynthia Maria Pinto da Luz

CRÔNICA

21 de janeiro de 2009

Criminalidade

“A Notícia” trouxe duas excelentes matérias, separadamente, que se integram como parte de um mesmo problema no último domingo: o aumento da criminalidade, a eficácia das ações policiais e do sistema prisional e a capacidade de se obter resultados na redução desta mesma criminalidade.O número de homicídios dos últimos anos, culminando com 85 homicídios em 2008 (18/1, página 18), aponta para uma escalada progressiva da violência e da insegurança pública em Joinville.Este número é a prova mais contundente da falência institucional dos órgãos de segurança pública e a política por eles implementada. São criminosos contra a polícia e vice-versa, num confronto que resulta em tragédias, mortes desnecessárias e injustas de ambos os lados.O Comando do 8º Batalhão de Polícia Militar disse que existe vitória da polícia sobre a criminalidade (18/1, página 19), como se o sacrifício de vidas pudesse ser contabilizado como vitória. É esse o método? O confronto aberto nas ruas, a exposição ao tiroteio que já assola a vida das pessoas em grandes centros e aumenta em Joinville a cada ano?Aceitarmos este contexto como circunstância inevitável nos dias de hoje e prática política adequada para conter a criminalidade favorece a impunidade, afronta a legislação brasileira, os pactos de defesa da vida e o direito de cada um de viver com dignidade.Quando me pronunciei sobre a terceirização da Penitenciária Industrial de Joinville (18/1, página 17) foi com a preocupação de demonstrar que experiências isoladas e sob controle da iniciativa privada não servem como solução para o problema de caráter público, de responsabilidade do Estado.Com este exemplo, há que se condenar a inércia estatal que remete a terceiros o papel de agente da ressocialização, para tornar o preso objeto da empresa privada, submetido a processo mecânico e limitado.E continuar com a velha prática de levantar paredes, celas e muros, compactuando com a superlotação e a violação de direitos de uma pessoa que voltará para as ruas, também não é política de segurança pública.

CYNTHIA MARIA PINTO DA LUZ Advogada do Centro dos Direitos Humanos de Joinville


cynthiapintodaluz@terra.com.br


http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2375810.xml&template=4187.dwt&edition=11547&section=941

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

UMA DOENÇA, A SAUDE

Mata-onça foi o apelido dado pelos amigos de infância ao meu primo Moacir falecido aos 53 anos de idade, sem nunca ter matado uma única onça na vida. A alcunha surgiu pelo fato de ele espalhar entre os amigos que seu tio, com quem morava, matava onça nas matas da Ilha de Santo Amaro, distrito de Vicente de Carvalho, no Guarujá. O tio, com fama de caçador era meu falecido pai cujo exercício profissional não passava a de um vendedor de fichas no famoso Cassino Atlântico, em Santos. Mata-onça cresceu e passou a ser chamado com muito respeito pelo verdadeiro nome. Aos vinte anos já era bagrinho da estiva, ou seja, já se preparava para ser um estivador profissional. Mas tinha que passar por estas fases. Contavam as horas de trabalho duro dentro do navio – não existiam containeres - e após 200 ou 500 horas, não me recordo, recebia a carteira plastificada; uma espécie de diploma de segundo grau para receber, também após longas horas acumuladas, a “carteira preta”, a derradeira, a profissional, motivo de orgulho de si mesmo e de respeito entre os colegas e a sociedade. O estivador não precisava ter nem o ensino fundamental; bastava-lhe a força física e a de vontade.. O Sindicato dos Estivadores de Santos também era uma potência política , mais até do que a dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Moacir e seus colegas de porão de navio – local de trabalho dos estivadores – não reclamavam do serviço pesado. Eram de carregar sacarias, empilhar caixarias que vinham içadas nos guindastes, e recolher com pá produtos a granel, como enxofre e carvão. Trabalho duro, ninguém reclamava, ganhava-se por tonelada e o saldo final era bom..(Eu na pré-adolescência me escondia da guarda portuária para ver todo aquele movimento. ) Na beira do cais político não tinha plataforma. Claro que alguns se candidatavam, e ganhavam com o apoio da classe. Mas, por qualquer besteira política , eram literalmente lixados por seus eleitores e colegas de estivagem. O que desejo lembrar aqui é o orgulho que eles tinham pela profissão e pelo que conquistavam. O Sindicato construiu um dos melhores hospitais de Santos. Hospital dos Estivadores de Santos. Tinha de tudo, até Pronto Socorro bem equipado. Já no acaso dos vinte anos radicado em Joinville, fico pensando porque razão nossa saúde pública ainda cambaleia tendo em vista que somos exemplo de urbanização industrial. Temos uma diversidade de médicos especialistas que é de fazer inveja à qualquer cidade do mesmo nível que o nosso, ao redor do mundo. A Maternidade Darci Vargas é referência reconhecida, inclusive, pela ONU. Mas o Hospital São José, o que mais deveria ser destaque ao menos entre a população – sua prioridade fim – fenece abatido em meio a tantas obras que refletem pouca esperança no que diz respeito ao tempo de atendimento, ao término de filas, ao treinamento contínuo de seus profissionais – sejam eles recepcionistas, enfermeiros ou médicos – e ao respeito humano. Se a política joinvilense não se der conta de que estamos caindo num abismo – isto sem contarmos com o contínuo desrespeito ao meio ambiente – nunca antes registrado, melhor seria passar a administração hospitalar às mãos de alguma classe trabalhadora, algum sindicato, - quem sabe o dos estivadores de São Francisco do Sul ? – para que, se não matarem a onça, ao menos não deixam encalhado um verdadeiro transatlântico da saúde publica.

SÓ POR HOJE, FORÇA

Alcino é meu amigo, não é fictício. Por razões óbvias não darei o nome de família. Tem idade para ser meu pai, mas sempre saíamos juntos, desde que vim para Joinville, em 1987. Nunca fora tão assíduo na bebida quanto eu, mas sempre pontual na mesa de um bar. Seresteiro impecavel. Gosta de um vinho tinto e quando abre a guarda, deixa o copo rolar um pouquinho mais.

Certa noite, em meio ao cancionismo e às musicas típicas da região, numa considerável roda de amigos boemios – os amigos de boemia são diferentes dos amigos comuns – todos bebiam bem, enquanto a viola seguia a noite. Nunca tive voz para cantar, mas depois de não sei quantas cervejas, a vergonha ia embora. O repertorio aqui na região de Joinville tende para a musica sertaneja e eu arrancava com Nelson Gonçalves e Silvio Caldas, para não ficar na mesmice e recordar as minhas noites de boemia na velha Santos. E da-lhe cerveja. E o Alcino no velho tinto seco.

Naquela noite bebemos tanto, mas tanto, que o jargão de chamar urubu de meu louro não serve de exemplo.

Pois bem, após madrugada adentro de muita musica e inspirações, tínhamos um caminho para percorrer até chegar, cada um, em seu lar. Uma subida um tanto considerável para quem esta vendo as estrelas no chão e não no céu. A residência de meu amigo dista uns trezentos metros antes da minha e situa-se exatamente no meio da subida cujo acesso é uma descida, ou seja, na subida da rua, olha-se para a esquerda e lá esta o portão que chega à uma descida para entrar no quintal do amigo ébrio. Abraçados, tentávamos manter o equilíbrio. Nem eu nem ele enchergavamos nada direito, pelo que me recordo. Só sei que a lei da gravidade falou mais forte e os dois rolamos a pequena ladeira. Ao chegar la embaixo não entendemos bem o que havia acontecido, um ajudou o outro a levantar-se quando, pouco tínhamos sacudido a poeira das roupas e tirado a areia dos braços, senti uma pancada forte nas costas que voltei a visitar o chão e ouvi uns ais de dores por parte de meu amigo, que também voltou a beijar o solo. Não é que a esposa do mesmo já estava de tocaia, irada, esperando apenas ele chegar e a ira acentuou-se quando viu que ele não chegou sozinho? Foi vassourada para tudo quanto foi costas que até hoje não sei como consegui alcançar o morro novamente e alçar rumo para minha casa.

As dores so se fizeram sentir no outro dia pela manhã, acompanhada da tão famosa cefaléia com ressaca.

Alcino continua sendo meu grande amigo e já passa de seus 77 anos; ainda bebe o seu vinho, moderadamente; a esposa dele é muito simpática e gosta de mim. Todo ex alcoolista sempre é muito querido após alguns anos de sobriedade pois serve de exemplo para os que ainda continuam bebendo e de referencia de que pode e sempre há uma esperança para as pessoas que são parentes de alcoolistas compulsivos ou dependentes de outras substâncias.

Após dez anos de abstinência é que consegui falar sobre este assunto publicamente ao entrar em um grupo de sentimentos para aprender como proceder no sentido de auxiliar um amigo dependente químico em cocaína.. Estou na sobriedade desde 1991.


Resolvi compartilhar esta história com os amigos porque sempre desejei escrever algo e nunca tive uma idéia sobre o que escrever, então, por que não um caso real?

Só por hoje, força.


Abraços

Luiz Delfino